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Análise de crédito além do balanço: inovação e desafios na avaliação de riscos em tempos de incerteza econômicas
Coface mostra que é possível atribuir nota de risco e sugerir limites de crédito mesmo para empresas sem balanço por meio de dados alternativos e ferramentas de analytics
Em um cenário global e regional marcado por incertezas econômicas, o mercado de crédito enfrenta desafios significativos, especialmente na avaliação da saúde financeira das empresas. Nesse contexto, análise de risco de crédito deve adotar abordagens inovadoras que permitem, inclusive, a avaliação mesmo na ausência de balanços financeiros completos.
Durante o webinar “Análise de crédito além do balanço: como avaliar clientes com poucas informações financeiras”, Ruy Lino, Gerente de Informações Aprimoradas da Coface, explicou que, mesmo sem o acesso aos balanços, é possível atribuir uma nota de risco e sugerir limites de crédito por meio do uso de dados alternativos e ferramentas de analytics. Diariamente, a empresa toma 10.000 decisões de crédito, com uma exposição total de 685 bilhões de euros e atuação em 160 países e 13 setores. “O diferencial está na análise e interpretação das informações, e não apenas na quantidade disponível.”
Para atender à crescente demanda por transparência e agilidade na tomada de decisão, a Coface desenvolveu uma metodologia que agrega dados essenciais e integrados, abrangendo desde informações básicas — como identificação, localização e regime de operação — até aspectos mais complexos, incluindo estrutura societária, fluxo de caixa e conformidade regulatória.
“A chave está em ter um conjunto centralizado de informações que nos permita validar a identidade da empresa, confirmar sua localização, regime de operação e tempo de mercado, e ainda compreender o nível de comprometimento dos sócios por meio da análise do capital social. Esses dados compensam a ausência do balanço e possibilitam uma análise precisa do risco de crédito”, afirma Lino.
A análise estende-se à avaliação da carteira de clientes, onde a diversificação das fontes de receita é um indicador fundamental. Ao verificar a quantidade de clientes e a concentração de faturamento entre os principais compradores, é possível identificar potenciais vulnerabilidades e prever o impacto que a perda de um cliente significativo pode ter na saúde financeira da empresa. Paralelamente, a coleta de informações sobre o fluxo de caixa – obtidas por meio do monitoramento de transações como boletos, TED e cartão de crédito – oferece um panorama detalhado dos gastos operacionais, possibilitando a identificação de investimentos e sinalizando eventuais discrepâncias entre receitas e despesas.
O monitoramento do histórico de pagamentos e o cumprimento de normas de compliance são outros elementos essenciais desta abordagem. Ao analisar a pontualidade nos pagamentos e identificar restrições financeiras, a Coface consegue mapear a credibilidade e a reputação da empresa no mercado, antecipando possíveis sinais de deterioração financeira. Essa análise é complementada pelo uso do Debit Risk Assessment (DRA), uma ferramenta interna que classifica o risco de crédito em uma escala de 0 a 10. Empresas com pontuações entre 5 e 10 são consideradas robustas, enquanto aquelas com notas inferiores demandam uma avaliação mais cautelosa e, em alguns casos, medidas corretivas.
Análise de crédito e cenário desafiador
A inovação na análise de crédito assume um papel estratégico para empresas diante do cenário de incertezas econômicas. Em meio a um contexto global de crescimento moderado, com projeções de 2,7% para o PIB mundial, Patrícia Krause, economista da Coface para América Latina, destaca os desafios para a economia global e brasileira.
A análise aponta que, apesar de uma recuperação surpreendente nos Estados Unidos e ajustes na China, o crescimento global deve permanecer abaixo do potencial pré-pandêmico. Na América Latina, a projeção é de um crescimento de 2,2%, com variações significativas entre os principais países, refletindo os impactos dos desafios políticos, fiscais e do ambiente comercial internacional.
Após dois anos de surpresas positivas, a economia brasileira deve perder força em 2025. A projeção da Coface é que o crescimento do PIB deve desacelerar de 3,5% em 2024 para 2% neste ano. “No segundo trimestre, deve ficar mais visível questão do aperto de juros que foi retomada pelo Banco Central em setembro do ano passado”, disse.
Krause alerta para a persistência de uma inflação elevada, com projeções de 5,6% ao final do ano – muito acima do teto de 4,5%. Em resposta, o Banco Central tem mantido uma postura restritiva, com a última alta dos juros para 14,25% em março e expectativas de fechamento do ano em torno de 15%, possivelmente alcançando 15,25% antes de iniciar uma redução.
Nesse contexto, um ponto de atenção apontado por Krause é o aumento expressivo nos pedidos de recuperação judicial. Em 2023, os números saltaram 69% em comparação a 2022, com uma nova alta de 62% posteriormente. Esse fenômeno não se restringe a um único setor – afetando desde o primário até segmentos tradicionalmente mais resilientes –, refletindo o impacto dos juros elevados e as incertezas econômicas que afetam empresas de todos os portes.
“Os desafios advindos do aperto monetário e das incertezas fiscais serão determinantes para a trajetória de 2025. Avanços na política fiscal e na estabilidade macroeconômica serão essenciais para restaurar a confiança dos agentes econômicos e possibilitar um crescimento sustentável no médio prazo”, ressaltou a economista.